"Hallow" é um termo antigo
para "santo", e "eve" é o mesmo que "véspera". O
termo designava, até o século 16, a noite anterior ao Dia de Todos os Santos,
celebrado em 1º de novembro.
Desde o século 18, historiadores
apontam para um antigo festival pagão ao falar da origem do Halloween: o
festival celta de Samhain (termo que significa "fim do verão").
O Samhain durava três dias e
começava em 31 de outubro. Segundo acadêmicos, era uma homenagem ao "Rei
dos mortos". Estudos recentes destacam que o Samhain tinha entre suas
maiores marcas as fogueiras e celebrava a abundância de comida após a época de
colheita.
O problema com esta teoria é que
ela se baseia em poucas evidências além da época do ano em que os festivais
eram realizados.
A comemoração, a linguagem e o
significado do festival de outubro mudavam conforme a região. Os galeses
celebravam, por exemplo, o "Calan Gaeaf". Há pontos em comum entre
este festival realizado no País de Gales e a celebração do Samhain,
predominantemente irlandesa e escocesa, mas há muitas diferenças também.
Em meados do século 8, o papa
Gregório 3º mudou a data do Dia de Todos os Santos de 13 de maio - a data do
festival romano dos mortos - para 1º de novembro, a data do Samhain.
Não se tem certeza se Gregório 3º
ou seu sucessor, Gregório 4º, tornaram a celebração do Dia de Todos os Santos
obrigatória na tentativa de "cristianizar" o Samhain.
Mas, quaisquer que fossem seus
motivos, a nova data para este dia fez com que a celebração cristã dos santos e
de Samhain fossem unidos. Assim, tradições pagãs e cristãs acabaram se
misturando.
O Dia das Bruxas que conhecemos hoje tomou forma entre 1500 e
1800.
Fogueiras tornaram-se especialmente populares a partir no
Halloween. Elas eram usadas na queima do joio (que celebrava o fim da colheita
no Samhain), como símbolo do rumo a ser seguido pelas almas cristãs no
purgatório ou para repelir bruxaria e a peste negra.
Outro costume de Halloween era o de prever o futuro - previa-se
a data da morte de uma pessoa ou o nome do futuro marido ou mulher.
Em seu poema Halloween, escrito em 1786, o escocês Robert Burns descreve formas com as
quais uma pessoa jovem podia descobrir quem seria seu grande amor.
Muitos destes rituais de adivinhação envolviam a agricultura.
Por exemplo, uma pessoa puxava uma couve ou um repolho do solo por acreditar
que seu formato e sabor forneciam pistas cruciais sobre a profissão e a
personalidade do futuro cônjuge.
Outros incluíam pescar com a boca maçãs marcadas com as iniciais
de diversos candidatos e a leitura de cascas de noz ou olhar um espelho e pedir
ao diabo para revelar a face da pessoa amada.
Comer era um componente importante do Halloween, assim como de
muitos outros festivais. Um dos hábitos mais característicos envolvia crianças,
que iam de casa em casa cantando rimas ou dizendo orações para as almas dos
mortos. Em troca, eles recebiam bolos de boa sorte que representavam o espírito
de uma pessoa que havia sido liberada do purgatório.
Igrejas de paróquias costumavam tocar seus sinos, às vezes por
toda a noite. A prática era tão incômoda que o rei Henrique 3º e a rainha
Elizabeth tentaram bani-la, mas não conseguiram. Este ritual prosseguiu, apesar
das multas regularmente aplicadas a quem fizesse isso.
Como o festival chegou à América?
Em 1845, durante o período conhecido na Irlanda como a
"Grande Fome", 1 milhão de pessoas foram forçadas a imigrar para os
Estados Unidos, levando junto sua história e tradições.
Não é coincidência que as primeiras referências ao Halloween
apareceram na América pouco depois disso. Em 1870, por exemplo, uma revista
feminina americana publicou uma reportagem em que o descrevia como feriado
"inglês".
A princípio, as tradições do Dia das Bruxas nos Estados Unidos
uniam brincadeiras comuns no Reino Unido rural com rituais de colheita
americanos. As maçãs usadas para prever o futuro pelos britânicos viraram
cidra, servida junto com rosquinhas, ou "doughnuts" em inglês.
O milho era uma cultura importante da agricultura americana - e
acabou entrando com tudo na simbologia característica do Halloween americano.
Tanto que, no início do século 20, espantalhos - típicos de colheitas de milho
- eram muito usados em decorações do Dia das Bruxas.
Foi na América que a abóbora passou a ser sinônimo de Halloween.
No Reino Unido, o legume mais "entalhado" ou esculpido era o turnip,
um tipo de nabo.
Uma lenda sobre um ferreiro chamado Jack que conseguiu ser mais
esperto que o diabo e vagava como um morto-vivo deu origem às luminárias feitas
com abóboras que se tornaram uma marca do Halloween americano, marcado pelas
cores laranja e preta.
Foi nos Estados Unidos que surgiu a tradição moderna de
"doces ou travessuras". Há indícios disso em brincadeiras medievais
que usavam repolhos, mas pregar peças tornou-se um hábito nesta época do ano
entre os americanos a partir dos anos 1920.
As brincadeiras podiam acabar ficando violentas, como ocorreu
durante a Grande Depressão, e se popularizaram de vez após a Segunda Guerra
Mundial, quando o racionamento de alimentos acabou e doces podiam ser comprados
facilmente.
Mas a tradição mais popular do Halloween, de usar fantasias e
pregar sustos, não tem qualquer relação com doces.
Ele veio após a transmissão pelo rádio de Guerra
do Mundos, do escritor inglês H.G. Wells,
gerou uma grande confusão quando foi ao ar, em 30 de outubro de 1938.
Ao concluí-la, o ator e diretor americano Orson Wells deixou de
lado seu personagem para dizer aos ouvintes que tudo não passava de uma
pegadinha de Halloween e comparou seu papel ao ato de se vestir com um lençol
para imitar um fantasma e dar um susto nas pessoas.
Hoje, o Halloween é o maior feriado
não cristão dos Estados Unidos. Em 2010, superou tanto o Dia dos Namorados e a
Páscoa como a data em que mais se vende chocolates. Ao longo dos anos, foi
"exportado" para outros países, entre eles o Brasil.
Por aqui, desde 2003, também se
celebra neste mesma data o Dia do Saci, fruto de um projeto de lei que busca
resgatar figuras do folclore brasileiro, em contraposição ao Dia das Bruxas.
Em sua "era moderna", o
Halloween continuou a criar sua própria mitologia. Em 1964, uma dona de casa de
Nova York chamada Helen Pfeil decidiu distribuir palha de aço, biscoito para
cachorro e inseticida contra formigas para crianças que ela considerava velhas
demais para brincar de "doces ou travessuras". Logo, espalharam-se
lendas urbanas de maçãs recheadas com lâminas de barbear e doces embebidos em
arsênico ou drogas alucinógenas.
Atualmente, o festival tem diferentes
finalidades: celebra os mortos ou a época de colheita e marca o fim do verão e
o início do outono no hemisfério norte. Ao mesmo tempo, vem ganhando novas
formas e dado a oportunidade para que adultos brinquem com seus medos e
fantasias de uma forma socialmente aceitável.
Ele permite subverter normais sociais
como evitar contato com estranhos ou explorar o lado negro do comportamento
humano. Une religião, natureza, morte e romance. Talvez seja este o motivo de
sua grande popularidade.
FONTE BBC






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